O Massacre de Jonestown: O Maior Suicídio Coletivo da História Moderna

Vamos conhecer a história do maior suicídio coletivo da história moderna, ocorrido em 18 de novembro de 1978, onde 914 pessoas morreram em Jonestown, uma comunidade agrícola localizada na Guiana e liderada pelo carismático líder Jim Jones.


Jim Jones
James Warren Jones nasceu em 1931 no pequeno povoado de Lynn, Indiana. Seu pai era racista e por toda vida foi membro da Ku Klux Klan, enquanto sua mãe escandalizava os habitantes locais usando calças compridas e fumando pelas ruas.

Jones casou-se com 16 anos e foi para a Universidade estudar medicina aos 18 anos. Um ano mais tarde, a deixou para fundar sua própria igreja, que posteriormente se converteria no Templo do Povo.

Embora não fosse ordenado como pastor, Jones trabalhou duramente para trazer a utopia a seu desventurado rebanho, proporcionando educação gratuita, cuidados médicos e emprego. Contrariando outro lideres de religiões, não canalizou os fundos da seita (cobravam 20% dos ganhos dos fiéis) para luxo próprio.

O preço que ele cobrava pela filantropia era a obediência total, que conseguiu por um sermão carismático, onde frisava para seus seguidos a dependência que eles tinham dele.

Mais tarde, recorreu ao terror utilizando sexo e a violência para exercer o controle sobre os membros de sua seita.

Jim Jones fundou a igreja Templo do Povo por volta dos anos 1950




O Templo do Povo

O Templo do Povo foi formado em Indianópolis, Indiana, em meados dos anos 1950. Era um templo esquerdista, que pretendia praticar o que é chamado "socialismo apostólico". Ao fazê-lo, o Templo pregou que "aqueles que permanecessem drogados com o ópio da religião tem que ser trazido para a iluminação - o socialismo". No início de 1960, Jones visitou a Guiana - então ainda colônia britânica - enquanto estava no caminho para o estabelecimento de uma missão de curta duração do Templo no Brasil. Em 1962 Jones e a família viveram 1 ano em Belo Horizonte-MG.

Depois que Jone recebeu críticas consideráveis em Indiana por suas opiniões integracionistas - estamos nos EUA e o racismo era forte na época. O Templo se mudou para Redwood Valley, California em 1965. No início de 1970, o Templo dos Povos abriu outros ramos em Bay View La Romaine, incluindo San Fernado e San Francisco. Em meados de 1970, o Templo mudou sua sede para San Francisco.

Cartas chamando fiéis para a igreja



Religião com Política

Jones converteu-se numa força política considerável quando o Templo do Povo começou a atrair os brancos ricos de mentalidade liberal.

Os membro do Templo do Povo votavam em quem o carismático Jones pedia, como ovelhas bem pastoreadas seguem o pastor, e assim, choviam políticos batendo a sua porta.

Em 1975, George Moscone, candidato a prefeito de São Francisco bateu a sua porta e Jones ordenou aos fiéis que votassem nele. Conseguiu ele Moscone com uma vantagem de 4 mil votos.

Moscone designou Jones como o Presidente da Comissão do Orgão de Habitação de San Francisco. Diferente de outras figuras consideradas como líderes de cultos, Jones contou com o apoio do público e contato com alguns dos maiores políticos de nível nos Estados Unidos. Por exemplo, Jones se encontrou com o vice-presidente Walter Mondale e a primeira dama Rosalynn Carter várias vezes. Governador Jerry Brown, vice-governador Mervyn Dymally, e deputado Willie Brown, entre outros, participaram de um grande jantar de homenagem em honra de Jones em setembro de 1976.

Jim Jones usou os fiéis para eleger o prefeito de São Francisco e ficou influente na política


Imprensa Revela a Outra Face de Jones

Apesar de desfrutar de bom homem com políticos, nem tudo era alegria na vida de Jones. Vários desertores do alto escalão do Templo do Povo haviam revelado para a imprensa a face negra da igreja. Eles falaram que ocorriam entre outras coisas, abusos sexuais e lavagem cerebral.

Até assassinatos ocorriam. Quem quisesse deixar o Templo do Povo era assassinato. Um exemplo foi Bob Houston, um membro do Templo cujo corpo mutilado foi encontrado perto de trilhos de trem em 5 de Outubro de 1976, três dias depois de uma conversa telefônica gravada conversando com ex-mulher onde discutiam sair do Templo.

Havia até o boato de que o Congresso dos EUA iniciassem uma investigação contra o Templo do Povo.

Foi ai que a paranoia de Jones começou a se intensificar. Ele achava que o Governo do EUA o perseguia e a preparação para apocalipse (apocalipse que na verdade seria quando fosse revelado o verdadeiro Jim Jones para todo mundo, caindo por terra aquela imagem de homem santo)  converteu-se numa das características da igreja.

O apocalipse seria concretizado com um ato extremo: o suicídio revolucionário.

Desertores começaram a revelar a podridão que ocorria no alto escalão do Templo do Povo.



Fuga para a Guiana
No outono de 1973, após críticas de jornais por Lester Kinsolving e a deserção de oito membros do Templo, Jone e o membro do Templo Tim Stoen prepararam uma "ação imediata", um plano de contingência para responder a policia ou a repressão da mídia. O plano listava várias opções, incluindo fuga para o Canadá ou um "post missionário no Caribe", como Barbados ou Trinidad. O Templo rapidamente escolheu Guiana. Em outubro de 1973, os diretores do Templo dos Povos aprovaram uma resolução para estabelecer uma missão agrícola lá.

Em 1974, depois de viajar para uma área do noroeste da Guiana com funcionários guianenses, Jones e o Templo dos Povos negociaram um contrato de arrendamento de uma área com mais de 3.800 acres (15,4 km²) de terra na selva localizado a 240 km a oeste da capital da Guiana de Georgetown. O local foi isolado e tinha um solo de baixa fertilidade, mesmo para os padrões da Guiana. O corpo de água mais próxima era ficava a 11 km de distância com estradas lamacentas levando até lá.

Jones resolve em 1977 partir para a Guiana, esperando assim fugir das investigações sobre os abusos descritos pelos desertores.

A viagem não foi fácil. Primeiro eles saíram de ônibus de São Francisco, na costa oeste e foram para Miami, na costa leste dos EUA. Depois pegaram o avião para Georgetown, a capital de Guiana e depois um barco que navegou por 24 horas até chegar em Port Kaituma, o lugar civilizado mais próximo de Jonestown. Literalmente eles estavam no meio do nada!

O Templo do Povo fugiu dos EUA e veio parar na Guiana...



Por que a Guiana foi Escolhida para Abrigar Jonestown?
O Templo escolheu mudar-se para Guiana, um país da América do Sul, por causa das políticas socialistas do país, que se deslocavam mais para a esquerda. O ex-membro do Templo Tim Carter declarou que outras razões para a escolha da Guiana era que o Templo via uma posição dominante racista nos EUA e que no país haviam corporações multinacionais.

Carter disse que o Templo concluiu que a Guiana, um país socialista, com predominantemente indígena, e que falava inglês, proporcionaria aos membros negros do Templo um lugar tranquilo para viver. Jones também pensou que a Guiana, com um governo composto por líderes negros, era pequeno e pobre o suficiente para ele para obter facilmente influência e proteção oficial.

E mais, a localização de Jonestown foi vantajosa não só para Jones, mas para o governo da Guiana, que tinha medo de ser invadido pela vizinha Venezuela. Com o acordo, a Venezuela não estaria disposta a montar uma incursão militar na Guiana arriscando matar civis americanos. Bom para ambos os lados o acordo!

O primeiro-ministro guianês Forbes Burnham afirmou que Jones "queria usar cooperativas como base para o estabelecimento do socialismo."

Placa de boas vindas a Jonestown, o projeto agrícola da Igreja do Templo do Povo




Como Era a Vida em Jonestown?

Jonestown foi erguido no meio do nada, na floresta, bem rapidamente. Era um pequeno projeto agrícola, que parecia ter de tudo, escolas, um hospital, oficinas de artesanato e uma cerca de segurança de arame farpado patrulhada por guardas armados para proteger a seita das forças externas que queriam "destruí-los". Havia também um conjunto de casas construídas para os membros da seita Templo do Povo.

Jones era um líder carismático, que dava o que seu povo precisava. Todos eram iguais. Era o sonho socialista dele se realizando. Em troca da vida boa, Jones cobrava lealdade de seus seguidores.

Existiam regras no local, impostas, e puníveis. É  óbvio por Jim Jones, que eram transgressões, e algumas eram:

- Tentar fugir de Jonestown
- Falar mal do pastor Jim Jomes
- Sentir saudade da família
- qualquer coisa que remeta ao capitalismo
- Tem de produzir no campo, senão é preguiçoso

O soviético Feodor Timofeyev visitou a comunidade em 1978 e disse que era a "primeira comunidade socialista e comunista da Estados Unidos da América, na Guiana e no mundo."

Só que nem todo mundo estava feliz em Jonestown. Relatos de abusos continuavam chegando aos EUA. Familiares de pessoas que viviam Jonestown relatavam que elas não podiam deixar o local e sofriam abusos. Isso acabou chamando a atenção de um congressista de São Francisco, local de onde Jones fugiu chamado Leo Ryan.

Ryan começou a investigam esses relatos e ficou convencido de que deveria visitar o local junto de repórteres e parentes preocupados para ver o que estava realmente ocorrendo escravidão e controle mental em Jonestown.

Crianças em Jonestown




A Visita do Congressista, Jornalistas e Parentes Preocupados

Em 14 de Novembro de 1978, o Ryan viajou para Jonestown, juntamente com uma delegação de dezoito pessoas. Jim Jones fica maluco, e pergunta se existe algum meio de deter a comitiva com o congressista, jornalista e parentes preocupados. Não havia meio, ele não tinha controle sobre eles.

No dia 17 de novembro finalmente chegaram, e foram recebidos com uma festa, onde todos pareciam muito felizes. Quando indagavam as pessoas que lá moravam se gostavam, todas respondiam sorridentes que lá era o melhor lugar do mundo, que amavam.

Então um homem entrega um bilhete escondido para um membro da comitiva e diz que quer ir embora. O congressista Leo Ryan lê e indaga Jones, que não acredita. Então outras pessoas começam a pedir para ir embora do local.

No dia seguinte, o congressista Ryan foi atacado com uma faca e resolve ir embora imediatamente do local. Eles aceitaram levar todo mundo que quis ir, inclusive Jim Layton, conhecido como "robô de Jones" e partem para o pequeno aeroporto de Port Kaituma.

Jim Jones, era paranoico e estava maluco, pois em sua cabeça ele era perseguido pelas autoridades americanas, e a visita do congressista foi a gota d´água.

Congressista Leo Ryan foi até Jonestown ver o que estava acontecendo lá



Ataque ao Avião

Quando o grupo, composto por Ryan, os repórteres e 15 residentes, estava na pista de pouso, entrado nos dois pequenos aviões, foram surpreendidos. Eles foram seguidos secretamente durante o trajeto de 10 quilômetros, e um caminhão de Jones entra no asfalto do aeroporto e começa a atirar com armas automáticas nas pessoas.

O "robô de Jones", Jim Layton, que já estava dentro do avião, saca uma arma e começa a atirar.

Durante 5 minutos o tiroteio continua, resultando na morte de 5 pessoas, incluindo o congressista Leo Ryan, 3 jornalistas e um dissidente.

As impressionante cenas foram gravadas por um repórter que estava no local.

Corpo do congressista e outras pessoas que foram atacadas por membros do Templo do Povos




O Suicídio em Massa

Depois do ataque ao avião e morte de 5 pessoas, resolve levar a cabo o que ele chamava de ato suicídio revolucionário final, o suicídio de todos.

Ele por diversas vezes falava para seus seguidos desse ato de suicídio revolucionário, e inclusive fazia as chamadas "Noites Brancas", nas quais seus seguidores eram persuadidos a tomar poções "venenosas" que, na época, era bastante inofensivas, e nunca levaram ninguém a morte.

Só que dessa vez foi diferente. Pouco depois das 5 horas da tarde, ele ordenou que membros da comunidade do Templo do Povo verterem ampolas de cianureto em jarras de refresco e levou a cabo seu suicídio revolucionário.

Primeiro, ele fez os pais darem a bebida a seus filhos, que depois de algum tempo, morriam em seus braços. Essa cena durou 20 minutos de acordo com uma das únicas 3 testemunhas que sobreviveram, Odell Rhodes. Depois foi a vez dos adultos um por um tomarem o veneno e morrerem. Jones foi esperto matando as crianças primeiro, pois muitos pais estavam abalados com a morte dos filhos e tomaram o veneno. Se fizesse ao contrário, com certeza muitos não tomariam. O ato levo a morte de 909, inclusive Jones, encontrado com um tiro na cabeça. No total, 914 pessoas morreram naquele dia.

Odell Rhodes, a testemunha que escapou correu para Port Kaituma, dando o alarme ao exército da Guiana, que chegou no local 2 dias depois e se deparou com a horrível cena de centenas de corpos caídos no chão. Rhodes ficou abalado, voltou para os EUA e a heroína (ele havia sido tirado das drogas por Jones) e morreu de overdose.

Assim, dia 18 de novembro de 1978, ocorreu a maior perda de vidas de civis norte-americanas em desastres não naturais até os ataques de 11 de setembro e o pior suicídio em massa dos tempos modernos.

Existe um áudio de 44 minutos, chamado de "death tape",  contendo parte do discurso que Jones fez para os fiéis antes do assassinato. Para ouvir clique aqui.

Atualmente nada mais resta do acampamento. A selva amazônica retomou a área e os índios nativos recolheram os materiais das construções.

Imagem mostra algumas das 909 pessoas que cometeram suicídio



Suicídio ou Assassinato em Massa?

Odell Rhodes, um dos únicos 3 sobreviventes da matança, disse que quando viu que Jones colocou cianureto no suco e realmente ia cometer o suicídio revolucionário, conseguiu engambelar os guardas e fugir.

Apesar desse relato, muitos dizem que o que ocorreu em Jonestown não foi um suicídio em massa, mas sim um assassinato em massa. Os relatórios patológicos locais assinalavam que muitos dos mortos apresentavam feridas a bala ou marcas que indicavam que o veneno lhes foram introduzido à força.

Parece que muitas pessoas foram mortas quando tentaram escapar do cativeiro. A teoria ganha credibilidade com o testemunho do juiz da Guiana, Leslie Mootoo, que declarou que 700 vítimas pareciam ter sido mortas contra sua vontade.

Odell Rhodes, fugiu durante o suicídio coletivo e sobreviveu. Foi ele quem avisou as autoridades.




Teoria da Conspiração: Foi um Experimento MK-ULTRA?

Para alguns a verdade é que Jim Jones trabalhava para a CIA (Agência Central de Inteligência) em um experimento parte do MK-ULTRA, o programa de experiências da CIA de Controle Mental.

Alguns anos após sua fundação em 1947, a CIA iniciou experiências com técnicas de controle mental. Inicialmente chamado Bluebird e depois renomeado de MK-ULTRA, os objetivos dessas experiências foram descritos sucintamente num memorando de 1952: "Será que podemos controlar um indivíduo até o ponto de que cumpra nossas ordens contra sua vontade e, inclusive, contra as leis fundamentais da natureza, como a autoconservação?". Ele usavam drogas alucinógenas em cidadãos americanos e depois de muitos protestos, em 1973 a CIA declarou ter encerrado o programa. Para muitas pessoas, o programa continuou escondido e Jonestown foi um destes experimentos.

A conspiração diz que Jones, com sua igreja comunista teria chamado a atenção da CIA, e ele acabou virando um membro da CIA. Para provar, dizem que o "comunismo" de Jones muitas vezes contradiziam violentamente seus supostos ideais socialistas.

Eles ainda afirmam que Jones mudou o Templo do Povo de lugar por ordem da CIA, que estava ansiosa em afastar suas experiências de controle mental da visão pública.

Outra coisa interessante é que o congressista Leo Ryan, que foi morto no ataque ao avião, ameaça expor a implicação da CIa em Jonestown, e do projeto MK-ULTRA.

Ryan não era um admirador da CIA. Anteriormente questionara a agência em algumas questões. Ele era menbro do Comitê da Câmara de Representantes responsável pelo controle da Inteligência, era co-autor da emenda Hughes-Ryan, que exibia que a CIa revelasse ao Congresso as operações planejadas. Depois de sua morte, a emenda foi rejeitada. Estranho...

No livro "60 Greatest Conspiracies of All Time", J. Vankin e J, Whalen dissem que "Jonestown então era um campo de concentração dirigido pela CIA e instalado como uma simulação das tentativas secretas do governo para reprogramar a mentalidade americana."

Seria Jonestown um experimento MK-ULTRA?


Conclusão


É chocante olhar as fotos de centenas de pessoas caídas no chão, mortas, tudo por um ato de suicídio revolucionário. Mas será mesmo que ocorreu em Jonestown um suicídio em massa? Até uma parte acredito que foi. Depois, aqueles que finalmente acordaram da lavagem cerebral, tentaram fugir, mas já era tarde demais, foram mortos.

Era um projeto da CIA? Na minha opinião isso tem tudo para continuar sendo terreno da conspiração. Jim Jones teve uma criação errada, com um pai racista, membro da Ku Klux Klan e uma mãe moderna para seu tempo. Essa infância foi a base para criar uma igreja onde todos, independentemente da cor, pudessem celebrar e mais tarde viver a utopia do socialismo.

O ser humano tem de entender que tudo que ele ganha vai ser cobrado depois. No caso do Jonestown, Jones dava medicina, educação, um lar e comida para todos. Em troca cobrava a lealdade e a escravidão.

Jonestown acabou, mas o ideal não. Estamos vendo isso acontecer hoje em muitos locais. Aliás, existe uma Jonestown gigante atualmente, e é um país chamado Coréia do Norte.

Aqui no Brasil também temos nossa Jonestown. Programas de governo para uma população carente que em troca quer o voto dela, perpetuando-se no poder o partido.

Infelizmente assombrados, existem muitas Jonestown em cada cidade. Resta torcer para que nenhum líder carismático e louco, faça novamente um ato revolucionário.


Fonte: Assombrado

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